quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Vamos inciar postando um texto sobre História Política, produzido durante as aulas do Mestrado.




Quando o passado era dos grandes.
Jonas Balbinot
Mestre em História

O início da História, creditado aos gregos, e é intrinsecamente ligado à formação e exaltação dos grandes homens, do indivíduo, e da exaltação de determinados marcos cronológicos. Escrita de forma narrativa sempre ligada, de uma forma ou outra, ao Estado e ao poder, representando as intenções e vontades dos governantes, portanto, apenas exaltando o passado, deixando à margem fatos considerados pouco importantes ou mesmo desabonadores do poder instituído, tentando impor-se como a memória de determinado povo.
No período da Idade Média, apesar da mudança do núcleo intelectual para dentro das igrejas, a essência da produção histórica foi mantida: datas, fatos isolados e narração. Somente no Renascimento é que aparecem algumas mudanças importantes. a crítica das fontes e a eliminação de lendas e milagres ‘fantasias’, em busca de fatos com veracidade. Porém, esse processo de crítica não mudou a forma de se escrever a história e a tradicional narrativa foi mantida. Esses mesmos historiadores faziam a chamada história oficial trabalhando para exaltar os poderosos.
No final século XVIII e século XIX, o movimento da Ilustração e o Romantismo, colocaram a História Política ainda mais no centro das atenções. Este período coincide com a formação e afirmação dos Estados Nacionais, quando então as obras históricas exaltavam os Estados, buscando fortalecê-los. Nesse período surgem as primeiras críticas a esta forma factual, ao campo político e de fazer história, vindas dos filósofos que propunham uma história filosófica racional, buscando o todo histórico. Também nesse período os historiadores eruditos trouxeram novas formas de crítica das fontes, além de abrirem novos acervos documentais à pesquisa.
No final do século XIX e século XX, as críticas à História Política foram sendo acentuadas, porém essas críticas não surtiram efeito, pois a produção historiográfica até o final de década de 1920 foi quase que totalmente baseada na História Política Tradicional. Essa crítica foi culminar no surgimento da revista dos Annales, em 1929, na França.
Com a abertura de novos campos de pesquisa, concomitante com a proposta dos Annales, surgem novos indicativos de trabalho para o campo político, voltando um novo olhar sobre este objeto. Entretanto a História Política tradicional não foi descartada. Em muitos lugares o seu método continuou sendo utilizado. O novo método pelos Annales caracteriza-se por uma resistência a privilegiar fatos, datas e indivíduos, atingindo diretamente o objeto da História Política Tradicional.

O mesmo Passado. Nova roupagem.

Com a criação da Revista dos Annales no início do século XX, surgiu um das primeiras formas de contestação à produção historiográfica desenvolvida até o aquele momento. Tendo por base o conhecimento interdisciplinar, a Escola dos Annales agregou as mais variadas áreas do conhecimento, fazendo com que a produção historiográfica extrapolasse suas próprias margens, apoiando-se agora em outras áreas, como a antropologia, a sociologia, a ciência política, a lingüística, a psicanálise, entre outras. Além disso, a tendência que surgia buscava uma História Total.
Entre os principais ícones articuladores desse movimento estão Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel. Esses historiadores buscavam uma nova maneira de produzirem conhecimento histórico, fugindo, de um lado, das análises factuais dos chamados positivistas – nas quais as fontes com validade eram as documentações oficiais – e, de outro, das análises, dos marxistas que usavam como referência de interpretação à estrutura econômica da sociedade. Fica claro, porém, que tanto os metódicos quanto os marxistas deixaram grandes contribuições à interpretação do passado, tendo importância ainda hoje no conhecimento histórico.
Esses novos métodos, novas abordagens e novos problemas suscitaram novas maneiras de interpretar o passado e essas mudanças causaram uma certa resistência ao estudo da História Política que acabou sendo confundida com a história factual e metódica, pois durante muito tempo foi escrita buscando construir heróis ou mitos, analisando as trajetórias individuais dos políticos e os fatos protagonizados por esses grandes homens. A história tinha ano, dia e hora marcada, as datas e os acontecimentos suplantavam a conjuntura que os envolvia.
A partir de década de 1970 e 1980 à História Política ressurgiu, chamada de Nova História Política, porém não da mesma forma como era estudada e escrita anteriormente. Volta ao cenário com um novo figurino, no qual os grandes heróis deixam de ser as únicas estrelas e passam a dividir o palco e as responsabilidades com o contexto histórico em que estão inseridos.
A História Política passou a se relacionar com outras áreas e com isso tornar possível a pluridisciplinariedade. Nessa nova fase, a política trouxe para junto de si idéias da sociologia, do direito público, da psicologia social, da psicanálise, da lingüística, da matemática, da informática, da cartografia, o que contribuiu - e muito - para a renovação da História Política
A história política passa a se caracterizar, portanto, de forma mais ampla, deixando de lado a antiga visão de datas e fatos. Agregam-se a ela novas variáveis de análise como, por exemplo, as eleições que passam a somar como fontes de muita importância, pois são a base do processo político nas sociedades contemporâneas. Os partidos assumem caráter de instituição e têm em seus filiados e recenseamentos, importantes fontes documentais. A opinião pública passa a pesar nos estudos da História Política, pois cada vez mais a população se politiza, buscando participar das decisões. A mídia assume caráter crucial, pois expressa abertamente idéias de quem disputa ou exerce cargos políticos e traz, em outros momentos, críticas positivas ou negativas da própria sociedade. Outro ponto a ser discutido pela Nova História Política agora é a política externa. No mundo contemporâneo, cada vez mais os países têm sido influenciados em suas administrações e decisões por conselhos internacionais e por outros países, além da força da globalização que abre e rompe as fronteiras estatais. Por fim surgem novas metodologias no estudo das Biografias, que não estudam o personagem isolado, mas sim inserido em um contexto.
Levando em conta essas novas visões e interpretações, Rémond expõe que “o político é como esses Estados dos quais a geografia não delineou previamente os contornos e a história não parou de modificar os limites: o político não tem fronteiras naturais”. Seguindo nesse tema Rémond deixa claro que: “na verdade, o campo do político não tem fronteiras fixas, e as tentativas de fechá-lo dentro de limites traçados para o todo sempre são inúteis.”